Um negócio pronto a comer

O mais recente capítulo da novela em torno do Terminal de Contentores de Alcântara torna ainda mais preocupante, de tão opaco, o véu lançado sobre a referida obra e as suas consequências. Obra essa, aliás, cujos contornos exactos e detalhes de negócio se desconhecem desde o início.

Com efeito, a pressão para a demissão de Manuel Frasquilho do cargo de Presidente da Administração do Porto de Lisboa (APL), bem como a sua eventual substituição por alguém politicamente dependente do Partido Socialista, veio mais uma vez demonstrar o efeito negativo para a cidade da subordinação do executivo camarário ao Governo. Com o primeiro sempre dependente do segundo, sacrificando a qualidade de vida na cidade a negócios cujos contornos são tão mais difusos, quanto os avanços e recuos a eles associados.

É público que António Costa adjudicou, sem concurso, a extensão da concessão do terminal de contentores de Alcântara à Liscont, empresa do grupo Mota-Engil, liderado pelo ex-dirigente socialista Jorge Coelho. E são também conhecidos os protestos gerados por essa actuação e que reuniram os cidadãos, saturados e incapazes de sofrer ainda mais na pele uma gestão de cidade cujo rio permanece de costas voltadas, cortando Lisboa ao meio e dividindo-a em duas partes incomunicáveis, numa atitude que permitiu já que Lisboa fosse comparada à Berlim de outrora, quando existia ainda o vergonhoso Muro.

Incapaz de contrariar a validade dos protestos e permanecendo em silêncio sobre as implicações negociais do seu aparente recuo, António Costa renegociou com a Liscont e prometeu «alterações». Alterações essas que incluem, pasme-se, projectos como o de um jardim «a vinte anos». Sem que ninguém entenda como se cria e destrói um jardim a golpe de caneta num calendário.

Na verdade, a táctica é conhecida e faz parte do modo de actuação socialista; Em primeiro lugar, apresenta-se um projecto de características tão descabidas e assustadoras nas suas consequências que provocam a indignação geral dos munícipes. Logo a seguir, é dado um aparente passo atrás, num suposto gesto de recuo dialogante. Na realidade, o projecto «modificado» é muitas vezes aquele que estava previsto executar desde o início.

Tenha mais uma vez sucedido assim ou não, a confusão gerada é de tal ordem que os moradores de Alcântara desconhecem o seu futuro, com ou sem jardim a prazo. E os lisboetas ignoram, como sempre ignoraram, o deve e haver em todo este negócio e a factura que pagarão.

Com a colocação à frente da APL de alguém com a sua confiança política, o Governo e António Costa colocam agora a cereja em cima de um bolo cozinhado nos bastidores. Bolo esse que cada um dos lisboetas saberá recusar, apesar dos esforços de António Costa em servir algo tão mal cozinhado.

2 comentários:

Anónimo disse...

Lisboetas ou Alfacinhas,
Para quem assistiu ás apresentações deste mega-projecto sentiu pela voz e geito muito inseguro de Ana Paula Vitorino, que este projecto não passaria de uma pré-apresentação do que seria um futuro virtual, ou seja, algo que poderia "ferir" as susceptibilidades e aferir das opiniões dos cidadãos.
Sempre me intrigou como o Dr. António Costa homem dedicado á ciência do Direito decidi avançar por caminhos pantanosos, como fazer aprovar projectos sem obedecer ás regras administrativas como manda o CPA (esta parte é mesmo só para alguns entenderem).
Curioso, é como derrepente se fazem viajens particulares á China e Macau e saem ideias iluminádas como esta, que somente favorece interesses estrangeiros e do Monopólio Mota-Engil criádo há medida do perfil do Homem que cometeu e é responsável pelo maior assassinato de portugueses inocentes, que simplesmente estavam na hora errada e no momento errado, e por acaso até viviam numa terra Rosa.
Pois não adianta "chorar pelo leite derramado" pois para remediar este acidente, mande-se o Homem Engenheiro construir pontes para África (mais a Sul) porque a África mais a Norte já tem pontes que cheguem.
Será que o Dr. AC nunca pensou que determinádas associações não são solidárias com estes "disparates", como por exemplo a ARESP que defende o interesse da Restauração naquela zona.
Poderia se preocupar talvez em resolver o problema das baratas americanas (baratas nauticas) que se passeiam ao longo do zona maritima e que têm que ser os utentes a resolver estas questões, pagando dos seus dinheiros particulares aquilo que compete ao Estado.
Curioso é existirem SETE (7) operadores em Lisboa que poderiam ter uma palavra para dizer sobre estes investimentos e ninguém se pronuncia publicamente, parecendo que existe uma fronteira entre uma Lisboa não Nautica e outra vedada - Actividade Portuária.
Bem haja ao movimento de Cidadania que se consegue fazer ouvir perante tantas atrocidades que lesam os nossos interesses.
Gostaria de deixar uma sugestão, dado que na margem Sul se considera uma desertificação, porque não desviar estes peojectos para a Zona do Porto Brandão, dao que temos Kms de encosta dotados ao abandono.

Vale a pena pensar nisto e já agora falar
Flor

Daniel Hilário disse...

Mais um exemplo de como os politicos do nosso país gerem os dinheiros públicos sem eira nem beira. Deviam ir todos para a estiva